Um holofote sobre a ONU | Paul Kubicek

Paul Kubicek* passa grande parte de seus dias no quarto andar do Varner Hall, um dos prédios mais antigos da Oakland University. Entre aulas, coordenação de programas internacionais e assistência a alunos que chegam cheios de dúvidas à sala 419 do edifício, ele ainda arranja tempo para estudar política internacional e os acontecimentos por todo o mundo que percorrem o noticiário do Detroit Free Press, da NBC e da Al-Jazeera.

Além de professor do Departamento de Ciências Políticas e diretor do Centro para Programas Internacionais, Kubicek também é orientador do Model UN Club da Oakland University. O grupo, composto por estudantes que cursam desde relações internacionais até jornalismo, treina para representar a faculdade da pequena cidade de Rochester Hills, Michigan, em simulações estudantis de fóruns da ONU. Quando se fala de ONU, Kubicek é praticamente autoridade máxima.

Outras de suas especialidades são o mundo árabe e os conflitos de intensa profundidade que acometem o Oriente Médio. Apenas um exemplo: na XVIII Lake Eire Conference, realizada em novembro de 2011, o professor orientou os estudantes que representaram Síria, Iêmen, Iraque e Palestina. Agora, o texano e amplo conhecedor de política internacional fala ao Olhares sobre a Primavera Árabe suas visões gerais relativas ao papel exercido pela ONU nos conflitos que assolam o norte da África e o Oriente Médio.

Como você enxerga as ações da ONU na Líbia, no Egito e na Síria durante a Primavera Árabe?

Paul Kubicek: O retrospecto da ONU é variado. A ONU tinha pouca coisa a fazer no caso do Egito – a situação inicial foi resolvida sem a necessidade de intervenção externa. Na Líbia, para a surpresa de alguns, a ONU pos em prática fortes ações para apoiar a oposição. Na Síria, ela ainda não fez algo tão invasivo até agora, em grande parte porque países como Rússia e China temem que a ONU dotada de maior pode poderia espalhar “revoluções” democráticas em outros locais.

Há algo que a ONU deveria ter feito e deixou de fazer?

PK: Na minha ótica, a ONU poderia exercer uma pressão maior, inclusive sanções, ao governo Sírio. A Liga dos Estados Árabes tem feito isso até então. Tenho certeza de que a ONU poderia fazer pelo menos o tanto quanto a Liga dos Estados Árabes tem feito.

Há algo que a ONU não deveria ter feito?

PK: Em minha opinião, o erro primário da ONU é tipicamente a falta de ação, não fazer muito ou fazer a coisa errada. Dado o balanço de poder no Conselho de Segurança, a ONU tem que ser cuidadosa na sua maneira de agir e garantir que suas ações estejam inseridas na sua política.

Como você vê as ações da Otan durante a Primavera Árabe?

PK: Eu acredito que a Otan foi bastante eficiente na Líbia – em particular, o que foi significante foi o fato de que os estados Europeus exerceram um forte papel nos conflitos líbios. Acho improvável que a Otan exerça uma função similar na Síria.

Existe alguma comparação possível entre o papel da ONU na Primavera Árabe e em outras crises humanitárias, como na Guerra do Iraque, na Guerra da Bósnia, em conflitos da antiga Iugoslávia e em guerras civis na áfrica?

PK: Em geral, eu diria que a ONU agiu de forma mais eficiente na Líbia do que em conflitos do passado. Ela autorizou a proteção de civis, e a Otan carregou a missão acentuadamente bem. Isso é muito mais do que a ONU havia feito em conflitos como os do Iraque e da Bósnia.

Como o sistema de funcionamento da ONU – o processo burocrático – influenciou suas próprias ações relativas à Primavera Árabe?

PK: A ONU tem que encontrar um consenso e garantir que países que têm poder de veto no Conselho de Segurança, como a Rússia, vão se manter fieis à decisão tomada. Isso impede a ONU de intervir com mais força e tem impedido sanções da ONU à Síria. Isso exerce uma influência importante.

Você acredita que alguma coisa precisa ser mudada na estrutura da ONU no sentido de garantir mais eficiência na proteção dos direitos humanos?

PK: Sim, eu acredito, mas é improvável que a ONU seja capaz de executar qualquer mudança de grande porte. Estados querem preservar sua soberania e não querem que a ONU se torne tão poderosa. Estados que possuem poder de veto irão mantê-lo. Se não houvesse vetos, poderia ser mais fácil para a ONU agir, mas os vetos podem ser necessários para que exista uma ONU de algum jeito. A ONU poderia criar sua própria força pacificadora para estar pronta para intervir, mas tal força ainda precisaria de autorização para agir e, em alguns casos, isso será impossível.

 *Paul Kubicek é professor do Departamento de Ciências Políticas, diretor do Centro para Programas Internacionais e orientador do Model UN Club da Oakland University.

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